A família também pode fazer mal.
Hoje eu sinto que minha vida será sempre a mesma, por mais que eu tente mudar, por mais que eu tente melhorar, eu percebi que o problema não sou eu, nunca fui eu, e sim as pessoas nos quais eu convivo.
Toda vez que saio de casa, sinto a diferença, eu me divirto, sorrio pra valer, mas me estresso também, fico mal, só que isso é raro, e logo ao chegar em casa, já têm brigas, raiva, tristeza, a vontade de sumir logo aparece.
Uma vez meu psiquiatra me disse, que eu devia observar o ambiente ao meu redor, pois ele reflete nas minhas atitudes, e hoje, parei pra pensar seriamente nisso, e agora estou escrevendo para não esquecer, não esquecer que o problema não sou eu, e sim o local onde vivo, as pessoas com quem moro, e toda vez que penso nisso, lembro de uma coisa que li a muito tempo atrás, que não importa quem seja, se essa pessoa/ambiente, te deixam mal, você deve se afastar, até mesmo se for sua família.
Faz tempo que penso em sair daqui, ter minha própria casa, afinal, quem não pensa? Mas dessa vez, não será só por mim, pois eu sei suportar, mas não quero que minha filha cresça em um ambiente conturbado.
Eu passei o início da minha infância em lar cheio de brigas, um pai alcoólatra, que agredia minha mãe fisicamente, e agredia meu irmão com palavras, eu lembro de cada detalhe até hoje, de cada agressão, de cada choro do meu irmão, lembro que com 4 anos de idade, eu pensei em matar meu pai, porque apesar de ser muito apegada a ele, me doía tanto ver ele fazer tudo aquilo.
E hoje, minha mãe juntou- se mais uma vez à um cara, ele também é alcoólatra, no início aparentava ser uma boa pessoa, mas eu sempre tive uma puga atrás da orelha, por motivos óbvios, até que certo dia, ele bebeu e resolveu dar uma de "super macho", ficou quebrando as coisas lá perto do portão da saída de casa, gritando, e então eu fui lá, eu o xinguei, e ele disse para eu "me foder", e então coloquei ele para fora de casa e chamei a polícia.
Naquele dia eu chorei descontroladamente, eu estava tão nervosa, tão frágil, e eu perguntei a minha mãe porque ela fez aquilo de novo, trazer um cara que mal conhecia para casa, só por ele aparentar ser bom, e claro, ela deu razão a ele.
Depois desse dia eu briguei com minha mãe, e nossa relação nunca mais foi a mesma, ela disse que não estava nem aí, que eu podia ir embora, e mais uma vez eu percebi, fui abandonada por quem dizia que nunca faria isso, e até hoje não entendo como uma mãe pode trocar um filho por um cara qualquer.
Depois desses acontecimentos, eu voltei a piorar, não cosigo mais ir às aulas, não consigo mais fazer quaisquer coisas que sirvam para meu bem.
Minha mãe diz que me ama, mas na verdade, ela nunca esteve realmente presente na minha vida, eu sei que antes não era por mal, porque ela precisava trabalhar, precisava sustentar eu e meu irmão, mas aos poucos, fui percebendo que sempre que ela estava estressada ou algo assim, pra compensar, ela me comprava algo, depois que ela conheceu esse novo "marido", isso se tornou constante, e eu sempre paro e digo a mim mesma que, nenhum dinheiro, roupa, restaurante caro, eletrônicos, ou seja lá o que for, vai compensar a ausência dela na minha vida.
Eu sei que durante minha infância ela tentou, mas depois que entrei na adolescência, ela mudou, acho que pra ela, por eu ser "tão" independente, nunca esperar por ninguém para fazer algo quê preciso ou que quero, ela ache que não sinto falta de ter alguém ao meu lado, perguntando se uma ajuda ou até companhia cairia bem.
Hoje em dia ela se quer pergunta se estou bem, ela se quer pergunta das minhas medicações, e da última vez que tomei vários medicamentos pra tentar me matar, ela se quer se preocupou, foi como se fosse algo normal, algo que não importasse.
Mas pra falar a verdade, não sei quanto tempo mais eu vou suportar aqui, ou eu saio daqui, vou ter minha vida com minha filha, ou qualquer dia desses, me encontram aí, pálida, sem sinais vitais.
Não culpo ela por não se importar com uma garota "dramática" como eu, afinal, o que eu sou mesmo? Sou só a filha dela.
Talvez isso aos olhos alheios não seja um problema tão grande, talvez seja melhor só eu sair daqui e pronto, mas pra mim não, pra mim é tudo intenso, e a sensação de abandono é avassaladora, até parece uma faca atravessando e girando no meu peito.
E se qualquer dia, eu não acordar mais, não culpo a ninguém, a culpa é minha por sentir de mais, e por ser egoísta ao ponto de deixar minha querida e amada filha sozinha nesse mundo doente.